domingo, 13 de setembro de 2020

CANGACEIRO

 



CANGACEIRO

Óleo sobre tela

0,50 X 0,70 cm

Alex Rocha

2020












A Mágoa de um Caboclo

 

Seu moço me diga algo

Que eu vou lhe perguntar

Como pode hoje em dia

Do jeito que a coisa tá

O pobre viver tranquilo

Magro fino igual um grilo

Sem dinheiro pra comprar?



Seu moço sou gente humilde

Tenho vergonha na cara

Trabalho suando a camisa

Isso ai nem se compara

Esse é o meu lamento

Carregado pelo vento

Tenho o físico de uma vara.


Pra sustentar a família

Eu aqui corto dobrado

Tiro leite e Planto a roça

E ainda trabalho o gado

E na boquinha da noite

Eu trabalho com machado.


Antigamente seu moço

Eu não comprava de nada

Minha roça era sortida

Eu pegava de carrada

Colhia tanto alimento

Que até o meu jumento

Vinha comendo na estrada.


Hoje eu olho as barracas

Nas feiras da região

Tudo custa uma fortuna

Para o pobre cidadão

Pois assim ninguém aguenta

Até um mói de pimenta

Eu vi vendendo no chão.


Ai que lembrança da terra

E da casa de farinha

De quando faltava a carne

Eu matava uma galinha

Seu moço a minha tristeza

Eu lhe digo com franqueza

É saudade do que eu tinha

Fica aqui a minha mágoa

De um pobre trabalhador

Que nasceu no pé da mata

Mais dá lição em doutor

Que sempre viu a beleza

E tirou da natureza

Só o que ela deixou.

Autor: Cleber Sardinha



sábado, 15 de agosto de 2020

O CAÇADOR E UMA FLECHA SÓ



O CAÇADOR DE UMA FLECHA SÓ

0,50 x 0,70
Óleo sobre tela
Alex Rocha
2020

Esse trabalho só foi possível graças ao processo que venho sofrendo, já alguns anos, de descolonização. Exercício difícil, muitas vezes doloroso, mas, necessário para quem deseja ler mais que as palavras – o mundo, e que, portanto, pode ser tocado pela possibilidade de torna-se negro ainda que sua pele seja preta. A série “Coisas do Sagrado”, sequência de trabalhos com temas religiosos que estão diluídos no meio cultural, tem possibilitado ainda mais essa reflexão.

     
A riqueza do legado afro-brasileira é imensurável, mesmo com todas as ultrajantes tentativas de apagamento ao longo dos séculos.  A arte, religião, a cultura produzida pelas mãos e pelo intelecto dos pretos e pretas em diversos lugares, mas sobretudo, aqui. do lado de cá do Atlântico, tem sofrido preconceito no sentido mais sórdido da palavra.  Contudo, parece que a natureza ontológica desses povos sempre foi de resistência. 
 
“O Caçador de uma Flecha Só” é um olhar, tímido, mas desejoso de aprender, para esse lugar- a cultura afro-brasileira.

                                                                                                                          Alex Rocha

terça-feira, 5 de maio de 2020

Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante





Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante
Alex Rocha
Óleo sobre tela
40 X 50 cm
2020











Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante


A inspiração para esse pequeno trabalho vem em parte do “Livro do desassossego” de Fernando Pessoa. As inquietações em prosa nesse livro, aliado ao atual momento que todos estamos passando, me incomodaram ao ponto de parir esta pintura. 
Avaliando o meu trabalho sinto que muitas vezes tenho sido repetitivo, seja nos aspectos referentes a forma, seja no emprego das cores, ou ainda, no caráter subjetivo e intimista. Pedindo licença ao grande poeta Manuel de Barros, o qual tenho imensa admiração, tomando emprestado uma das suas falas no poema “Autorretrato” no momento em que fala que já havia escrito 14 livros, todos repetições do primeiro, arremata: “posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim”. Isso me conforta imensamente e digo, também não posso! 
"Canto do desassossego em dias de lua minguante" título para essa obra pintado em óleo sobre tela (40 X 50 cm), é uma leitura introspectiva desse momento. Como já adiantei, "desassossego" se refere não só ao citado livro, mas, as inquietações reverberadas do atual momento. Já a "lua minguante" é símbolo de reclusão/reflexão e preparação para recomeço. O "pombo" que em muitas vezes representa a paz, aqui é desassossego. 
 De forma nenhuma, esse desassossego deve ser entendido simplesmente como falta de paz, ou ainda, mensagem pessimista. Não é isso! Acredito que todas as incertezas e medos gerados nesse momento também podem nos despertar para esperança. Aquela do verbo esperançar, onde o mote é a labuta, o fazer. 
 Portanto, que as reflexões nesses dias de lua minguante nos transforme. E que seja para melhor! Melhor no amor. 

 Alex Rocha

terça-feira, 21 de abril de 2020

AVE LIBERDADE





AVE LIBERDADE
Óleo sobre tela
50 X 70 cm
Alex Rocha
2020










Ave liberdade

Ó, bela ave, livre para voar,
Alce o teu voo rumo à liberdade
Para que nada possa te limitar
A não ser a tua própria vontade.

Que o teu percurso seja o infinito,
Que o teu canto nele sempre reverbere
Concebendo a altivez do seu espírito,
Demonstrando a natureza que te insere.

Que com o teu olhar atencioso
A perspicácia alicerce teu trajeto
E na força do teu ser decoroso
Que o céu seja o teu único teto.

Para que o descansar do teu pouso
Nunca seja solitário e engessado
E, caso assim fores no teu repouso,
Que seja apenas na arte de um quadro. 

Autor: Eduardo Duarte

sexta-feira, 17 de abril de 2020

ANJO EM PERFIL











ANJO EM PERFIL
Óleo sobre Tela
40 X 50 cm
Alex Rocha
2020










 COISAS DO SAGRADO

Acredito que arte é um conceito livre, não aceita definições. Mas penso a cultura popular como lugar de expressão do que é mais puro e verdadeiro na arte. É desse lugar ou, a partir daí que, direta ou indiretamente, tenho pensado meu trabalho. Embora sempre impregnado de subjetividades, características de memórias afetivas, é através da cultura popular que tenho narrado as minhas pinturas. É do “nicho” da cultura popular que tenho tirado os meus “brinquedos”, as minhas histórias.  As coisas do sagrado - os santos, anjos, os símbolos e lendas - que passam por mim se transformam em desenhos e pinturas. E se em muitas vezes isso não fica tão explícito, quase surrealista, é por conta da forma de contar.
Coisas do Sagrado trata de uma série de trabalhos que venho desenvolvendo voltados para arte sacra que permeia a cultura popular. Nesse sentido não diz respeito apenas à iconografia presente na igreja, mas também, a mitologia e crenças diluídas no meio popular, formando uma espécie de amálgama cultural. Isso tem me afetado sobremaneira que aliado as minhas memórias não só da minha infância, mas, sobretudo dela, vem me constituindo como artista.
Apresento aqui a cabeça de um Anjo em perfil que integrará uma composição de três trabalhos com mesma dimensão (40 X 50 cm), sendo este o segundo. A ideia inicial é emoldurar depois de prontos os três em uma mesma moldura.
Esses anjos foram pinçados da memória de infância. Eram eles que me recebiam na casa da minha avó.  Seis cabeças ornamentando o céu de um quadro onde se encontrava ao centro, braços estendidos, um homem. Na minha meninice não compreendia quem era.  Tão pouco entendia por que estava ali cravejado em uma cruz. Essa cena sempre me incomodava, muito mais os anjos. Seis cabeças aladas. E eu sempre a perguntar, onde estão os corpos desses meninos?
Alex Rocha

sexta-feira, 6 de março de 2020

O DIVINO













O DIVINO
óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019








O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
 e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!

 A gente principia as coisas, 
no não saber por que,
 e desde aí perde o poder de continuação
 porque a vida é mutirão de todos, 
por todos remexida e temperada. 
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: 

que as pessoas não estão sempre iguais, 
ainda não foram terminadas, 
mas que elas vão sempre mudando. 
Afinam ou desafinam.Verdade maior. 
Viver é muito perigoso; e não é não. 
Nem sei explicar estas coisas. 
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.

Guimarães Rosa
Passagem de "Grande Sertão Veredas

sábado, 22 de fevereiro de 2020

UM ANJO








UM ANJO
Óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019
















Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando se chega pra cá?
Perguntaria também
Como é que ele é feito



Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que é que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Vivemos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?


Landro Gomes de Barros

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A ESPERANÇA








A ESPERANÇA
Óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019

















Sou o mar soltando a rima
Em cada onda quebrada
Pela proa da jangada
Ora embaixo, ora em cima
O meu ciclo não termina
É corrente quente e fria
Conheço a barra do dia
E a linha do horizonte
Sou base pra qualquer monte
O meu nível rege a guia

Navego pela poesia
Num Galope a Beira Mar
Sou o verso pra rimar
O ciclo que se inicia
Meu canto não silencia
E sonoriza o balanço
Eu nunca paro e nem canso
Vou invadindo fronteiras
Fincando frases bandeiras
Em cada ponto que avanço

Sou valente sendo manso
Bravio, calmo e sereno
Pra ser grande, sou pequeno
Querendo colo e descanso
Sou a passada do ganso
Na mansidão nova Lua
Recebo versos das ruas
Por onde o vento trafega
E entre espumas me entrega
Saudades das noites suas

Em meus sonhos perpetua
Outro canto de saudade
Vou construindo a idade
Eu sou o tempo que atua
Formando outra pele nua
Com a semente do bem
E cada verso que vem
Traz outra rima de Paz
Somos isso, e muito mais
Filhos de Deus, Amém!



  

Maviael Mel

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O LUMIAR DO LAMPIÃO

























O Lumiar do lampião
Alex Rocha
Óleo sobre tela
0,80X100 cm
2019














Ê Cangaceiro,
Onde mora lampião
Mora junto de São Pedro
Lhe contando a região
Sertão, meu sertão
Onde está Lampião
O famoso cabra da peste
E Maria sua paixão
Nasceu na terra de valente
Onde a faca não só corta cana corta gente
Viveu na terra de valente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
E quem morre primeiro deixa o amigo pra enterrar
É mais uma cruz que marca uma história pra contar

Você recado de gente
De cara valente que nem Lampião
Não tem mais cavalo e nem sela
E seu maço de vela já parou de queimar
Eh Cangaceiro,
Onde mora lampião
Mora junto de São Pedro
Lhe contando a região
Sertão, meu sertão
Onde está Lampião
O famoso cabra da peste
E Maria sua paixão
Nasceu na terra de valente
Onde a faca não só corta cana corta gente
Viveu na terra de valente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente


Banda de Pau e Corda
Lampião


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

UM PÁSSARO EM POSE GARBOSA







Um Pássaro em Pose Garbosa
Alex Rocha
Óleo sobre tela
50 X 70
2019









Pássaro em pena, pintura
Arte divina, candura
Preso em gaiola, tortura
Asas voando, soltura.

Corta o pincel, escultura
na tela os limites, moldura
nasce a feliz criatura
da arte divina, tão pura.

Passa um menino, sorri
Viaja pra longe de si
Sonha voar pelo mundo
Voltar no mesmo segundo

Na mesa o café esfriando
E a tinta que vai escorrendo
Escuto o leitor admirando:
-Madeira está derretendo!

É que a mente tão fértil, engenhosa
Esculpiu tal madeira formosa
Na tela tão branca e lustrosa
Um pássaro, em pose garbosa.

Por Nilton Cirqueira

terça-feira, 16 de julho de 2019

AS TRAMELAS DE DOM SEBASTIÃO








As tramelas de Dom Sebastião
70 X 1,00 cm
Óleo sobre tela
Alex Rocha
2019













Durante três anos, de 1835 a 1838, na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco, uma comunidade com cerca de mil pessoas morou próximo às pedras de 30 e 33 metros de altura, sob a liderança do jovem João Antônio dos Santos e posteriormente de seu cunhado João Ferreira; a partir dali nasceria à fantástica história das "Pedras do Reino". A crença era baseada no sebastianismo. Inspirado em cordel sobre D. Sebastião, João Antônio dizia que o mitológico rei português (morto no século 16 em batalha contra os mouros) desencantaria ali, e acreditavam no aparecimento, em pleno sertão, do Reino Encantado de Dom Sebastião, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império Português, livrando o povo das mazelas. A espera terminou com o massacre da Pedra do Reino, em que 53 pessoas, dentre essas, 20 crianças; e 14 cães morreram em sacrifício, entre os dias 14 e 16 de maio de 1838.

Dom Sebastião foi o Rei português morto em 1578 quando, aos 24 anos, se lança numa nova Cruzada, rumo ao Marrocos. Na tentativa de converter mouros em cristãos, desaparece na batalha de Alcácer Quibir. Seu corpo nunca fora encontrado. Portugal anos depois passa para as mãos espanholas. Cresce em terras lusas o sonho de que D.Sebastião um dia retorne para restaurar o Império Português. O mito se estabelece.

No Brasil, o mito sebastianista da Pedra do Reino prometia que o Rei finalmente voltaria do deserto instalando aos pés da Pedra Bonita – nome primitivo da Pedra do Reino – um Reino Encantado. Distribuiria riqueza, terras e libertaria os negros da escravidão. O sangue dos fiéis derramado nas Pedras - pregava o líder dos sebastianistas - abriria caminho para o “desencantamento” do Rei. 
O Movimento fanático surgiu no município de Floresta (em área que depois integraria o município de São José do Belmonte), interior de Pernambuco, em 1836, um ano depois de o estado sofrer uma grande seca. Teve início com as pregações do beato João Antônio. O beato foi logo seguido por uma legião de adeptos, mas, pressionado por padres católicos, desistiu da iniciativa. Dois anos depois, João Ferreira (um cunhado do beato João Antônio) reinicia o movimento, com as mesmas promessas de criação do "Reino Encantado". O fanático João Ferreira reunia seus seguidores em torno de um grande rochedo;a "Pedra do Reino"; e dizia que, para que o rei Sebastião revivesse e pudesse realizar o milagre da riqueza, era preciso que a grande pedra ficasse totalmente tingida com sangue humano. Quem doasse o sangue para a volta do rei seria recompensado: velhos ressuscitariam jovens; pretos voltariam brancos e todos, além de ricos, seriam imortais na nova vida. Tiradas de suas lavouras pelo flagelo da seca, famílias de agricultores acamparam em volta da rocha e passaram a aguardar o milagre. 


Os registros oficiais sobre a Pedra do Reino citam uma beberagem à base de manacá com jurema servida por João Ferreira aos seus seguidores, durante as cerimônias sebastianistas. Um é raiz; a outra, erva. Ambos, fortes alucinógenos. João Ferreira proclamou-se "rei" e estabeleceu os costumes da comunidade ali formada. Por exemplo, cada homem poderia ter várias mulheres, mas cabia ao "rei" o direito da primeira noite: ele dormia a noite de núpcias com a recém-casada, devolvendo-a no dia seguinte ao marido. Todas as outras normas de conduta também eram ditadas por ele. A tentativa de tingir a pedra com sangue humano (para que, finalmente, o milagre acontecesse) foi levada à prática durante três dias de maio de 1838. O primeiro a ser degolado foi o pai do "rei" João Ferreira. Outras 50 pessoas foram sacrificadas, a maioria crianças. Mas, mesmo assim, o rei Sebastião não apareceu. Os fanáticos, então, decidiram sair em procissão, tendo à frente João Ferreira. Encontraram uma patrulha e foram massacrados.

Fonte:www.sobrenatural.org.br

terça-feira, 21 de maio de 2019

AUTORRETRATO



























AUTORRETRATO
Óleo sobre tela
50 X 70 cm
Alex Rocha
2019









Ao nascer eu não estava acordado, de forma que Não vi a hora.
 Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
 Depois eu já morri 14 vezes. 
Só falta a última. 
Escrevi 14 livros. 
E deles estou livrado.
 São todos repetições do primeiro. (Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim.) 
Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro.
 Em pensamento e palavras namorei noventa moças, mas pode que nove.

 Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze. 
Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios, um prego que farfalha, um parafuso de veludo, etc etc. 
Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção;
 só dez por cento que é mentira.
 Quero morrer no barranco de um rio: - sem moscas na boca descampada!



AUTORRETRATO (Manuel de Barros)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

GRATIA PLENA










Gratia Plena
20 X 30 Cm
óleo Sobre Tela
Alex Rocha
2019














De olhos fechados
 Sem abrir a boca 
Ela me falou de amor
 E todas as palavras 
 Estavam naquela lágrima 
 Banhando seu rosto 


Antônio Maciel

segunda-feira, 1 de abril de 2019

MELANCOLIA







MELANCOLIA
Óleo sobre tela
0,50 X 0,70 cm
Alex Rocha
2019







Melancolia



 No rio surgiu um peixe
 Alegre e saltitante 
Glub glub; Fish Fish… 
 Brincava e comia…
 Saltava e comia… 
 Até que um dia… 
No rio caiu o rejeite… 
E o Fish nada via…
Não respirava, não mexia… 
Não nadava, nem comia… 
Melancolia...
Crote crote, ave Maria! 
O Fish ficou confuso, 
Nem de peixe ele entendia… 
 Até que um dia… 
O peixe comeu um parafuso… 

 Júlia Lícia

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Cangaceiro


























Cangaceiro
Óleo sobre tela
0,60  080 cm
2019
Alex Rocha







 Ê Cangaceiro, Onde mora lampião 
Mora junto de São Pedro 
Lhe contando a região Sertão, meu sertão 
Onde está Lampião
 O famoso cabra da peste E Maria sua paixão
 Nasceu na terra de valente
 Onde a faca não só corta cana corta gente
 Viveu na terra de valente 
 Onde a faca dança e roda corta e mata gente 
E quem morre primeiro deixa o amigo pra enterrar 
É mais uma cruz que marca uma história pra contar

 Você recado de gente 
De cara valente que nem Lampião
 Não tem mais cavalo e nem sela
 E seu maço de vela já parou de queimar
 Eh Cangaceiro, Onde mora lampião 
Mora junto de São Pedro 
Lhe contando a região 
Sertão, meu sertão 
Onde está Lampião
 O famoso cabra da peste
 E Maria sua paixão 
Nasceu na terra de valente
 Onde a faca não só corta cana corta gente 
Viveu na terra de valente
 Onde a faca dança e roda corta e mata gente 
Onde a faca dança e roda corta e mata gente 
Onde a faca dança e roda corta e mata gente 
Onde a faca dança e roda corta e mata gente 
Onde a faca dança e roda corta e mata gente




Lampião Banda de Pau e Corda

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

BRAMURAS DE SÃO FRANCISCO












BRAMURAS DE SÃO FRANCISCO

Óleo sobre tela
70 X 080
2018
Alex Rocha










Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta
Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só eu, só eu só, eu

Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê

Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme


Caetano -  O Ciúme

AO VAQUEIRO





AO VAQUEIRO
Óleo sobre tela
50 X 070
2018

Alex Rocha












 Ô Quilimero Assusta meu irirmão
Iantes mêrmo que nóis dois saudemo
Eu te pregunto naquele refrão
Qui na fartura nóis sempre cantemo
Na catinga tá chuveno
Ribeirão istão incheno
Me arresponda mei irirmão
Cuma o povo de lá tão
Só a terra que você dexo
Quinda tá lá num ritirou-se não
Os povo as gente os bicho as coisa tudo
Uns ritirou-se in pirigrinação
Os òtro os mais velho mais cabiçudo
Voltaro pru qui era pru pó do chão
Adispois de cumê tudo
Cumêr' precata surrão
Cumêr' coro de rabudo
Cumêr' cururu rodão
E as cacimba do ri gavião
Já deu mais de duas cova d' um cristão
Inté aquela a da cara fêa
Se veno só dexô a terra alêa
Foi nas pidrinha cova de serêa
Vê sua madrinha
E vei de mão c'ua vea
Na cantiga morreu tudo
Qui nem preciso caxão
Meu cumpadre João Barbudo
Num cumpriu obrigação
Vai prá mais de duas lua
Que meu pai mandô eu no Nazaré
Buscá u'a quarta de farinha
Eu e o irmão Zé Bento vinha andano a pé
Mãe lua magrinha qui está no céu
Será qui cuano eu cheguo in minha terra
Ainda vou encontrar o que é meu
Será que Deus do céu, aqui na terra
De nosso povo intonce se isqueceu
Na catinga morreu tudo
Qui nem percisô caxão
Meu cumpadre João Barbudo
Num cumpriu a obrigação
Udo aõ udo aõ

Elomar Figueira - A Pergunta (do "O Tropeiro Gonsalin")


sábado, 14 de julho de 2018

CABEÇA DE SÃO FRANCISCO











































Cabeça de São Francisco
Alex Rocha
Óleo sobre tela
060 X 0,70 cm                 
2018


“(…) Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos.
Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. (…) Deus existe mesmo quando não há. (…) Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. (…)” 





 Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”. 1994, p. 76.

sábado, 3 de março de 2018

PEIXE DA TERCEIRA MARGEM





















Alex Rocha
Peixe da Terceira Margem
080 X 1,00
Óleo sobre tela
2018


Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.


Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Trecho de do conto “A Terceira Margem do Rio” de Guimarães  Rosa.