Alex Rocha
Peixe da Terceira Margem
080 X 1,00
Óleo sobre tela
2018
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava
para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha
levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos
anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri,
fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu
vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube
mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai
ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do
mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me
depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas
beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Trecho de do conto “A Terceira Margem do Rio” de Guimarães Rosa.
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