domingo, 23 de outubro de 2016

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Alex Rocha
0,60 X 0,80
Óleo sobre Tela
2016



Uso a palavra para compor meus silêncios.
 Não gosto das palavras fatigadas de informar.
 Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão 
tipo água pedra sapo.
 Entendo bem o sotaque das águas
 Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
 Prezo insetos mais que aviões.
 Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. 
Tenho em mim um atraso de nascença.
 Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. 
Tenho abundância de ser feliz por isso. 
Meu quintal é maior do que o mundo. 
Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas
 Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
 Porque eu não sou da informática:
 eu sou da invencionática.
 Só uso a palavra para compor meus silêncio. 


 Manoel de Barros