quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O artista: o santo e o louco




Alex Rocha
òleo  S/Tela
2011








 


A arte faz parte da história da humanidade desde os primórdios da nossa existência. Diversas teorias pretendem explicar a gênese dessa extraordinária linguagem que se desenvolve de diversas maneiras em seres humanos, sempre causando admiração e espanto.

Todo ser humano é capaz de criar. A criatividade é um processo que pode ser desenvolvido através da estimulação. Mas não se sabe o porquê, alguns indivíduos são dotados de uma capacidade criativa que se diferencia da maioria das pessoas “normais”.
O artista é um ser iluminado que possui um dom elevado da arte e da criação. Isso, muitas vezes o torna incompreendido, e até mesmo chega a ser considerado um louco por aqueles que não o compreendem. Isso quando não são chamados de vagabundos, de bêbados, de vira-latas...

Um artista, por muitas vezes, pode se tornar um louco, um indivíduo excluído, às margens da sociedade, vítima da incompreensão. É comum ouvir histórias de grandes artistas que não foram compreendidos senão após gerações além da sua.

Em suas cartas a Theo, o grande mestre da pintura Vincent Van Gogh, fala desse “santo e louco” que foi, e que é o artista para a sociedade.

(1882), “O que eu sou aos olhos da maioria das pessoas? Uma pessoa sem importância, um excêntrico ou alguém desprezível, alguém que não tem nenhuma posição na sociedade e nunca terá. Pois bem, mesmo se eles estivessem absolutamente certos, então eu gostaria de um dia mostrar, pelo meu trabalho, o que um excêntrico, o que um ninguém traz em seu coração.”
“Sou um homem de paixões, capaz de, e sujeito a fazer coisas mais ou menos insensatas, das quais às vezes me arrependo, mais ou menos. Muitas vezes me ocorre falar ou agir um pouco depressa demais, quando seria melhor esperar, com um pouco mais de paciência.”

(1884), “Ao invés de me deixar levar pelo desespero, tomei partido da melancolia ativa, enquanto tinha potência de atividade. Ou, em outras palavras, preferi a melancolia que espera e que aspira, e que busca; invés daquela que embota e, estagnada, desespera.”



(1889), “É certamente um estranho fenômeno que todos os artistas, poetas, músicos, pintores, sejam materialmente infelizes; inclusive os felizes. Isso renova a questão: A vida é inteiramente visível para nós? Ou, antes da morte só lhe conhecemos um hemisfério?”

(1890), “Temos que nos prevenir, temos que trabalhar para ter um telhado em nossas cabeças, camas, enfim, o indispensável para agüentar o cerco do fracasso, que durará por toda a nossa existência. E temos que nos fixar em um lugar mais barato. Concluo: viver mais ou menos como monges, ou eremitas, tendo o trabalho como primeira paixão, com a resignação do bem estar. Quando se é um pintor, passa-se por louco ou por milionário. Uma xícara de leite custa um frango. Um pão com manteiga, dois. E os quadros não se vendem. Quanto a considerar-me totalmente são, não devemos fazê-lo. As pessoas da região que são doentes como eu, falam a verdade. Podemos viver muito ou pouco. Mas sempre haverá momentos em que perderemos a cabeça. Peço, portanto, que não diga que eu não tenho nada. Ou eu não teria nada. Se eu me relanço em cheio no trabalho, muito bem. Mas continuo sempre louco”. (Vincent Van Gogh)

As pessoas são muito hipócritas. É muito mais fácil julgarem os artistas como “loucos”, do que assumirem o quanto são, a elas, superiores em sua essência.


Júlia Lícia Soares Matos.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O AMOR E A LOUCURA








Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades
dos homens em um lugar da terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre muito louca, propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE
sem poder conter-se perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos
saltos que acabou por convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA,
que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar: a VERDADE preferiu não esconder-se.
"Para que se no final todos me encontram?"- pensou. A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não
tivesse sido dela ) e a COVARDIA preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro, ... - Começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA que caiu atrás da primeira pedra no caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO que, com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A GENEROSIDADE quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava parecia perfeito para algum de seus amigos: se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o vôo de uma borboleta, o melhor para VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE.
E assim acabou escondendo-se num raio de sol. O EGOÍSMO, ao contrário,
encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas
para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira! ela se
escondeu mesmo foi atrás do arco-íris) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO... não me recordo onde se escondeu, mas isso não é o mais importante...
Quando a LOUCURA já estava lá pelos 999.999, o AMOR ainda não
havia encontrado um local para esconder-se pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas pétalas.
- Um milhão! - terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos da pedra.
Depois, escutou-se a FÉ discutindo zoologia com DEUS no céu.
Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Em um descuido, encontrou a INVEJA e claro, pode-se deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e ao se aproximar de um lago,
descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois estava sentada em uma cerca sem saber de que lado esconder-se...
E assim foi encontrando todos: o TALENTO entre as ervas frescas,
a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris
(mentira! na verdade estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO,
a quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local...
A LOUCURA procurou em baixo de cada rocha do planeta,
atrás de cada árvore, em cima de cada montanha...
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Pegou uma forquilha e começou a remover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou um grito de DOR. Os espinhos haviam ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA não sabia o
que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu desculpas e perdão e prometeu ser seu guia eternamente...
Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na Terra:
O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.
Entrou por uma porta
Saiu pela outra
Quem quiser que conte outra!
(Texto achado por acaso)