domingo, 13 de setembro de 2020

CANGACEIRO

 



CANGACEIRO

Óleo sobre tela

0,50 X 0,70 cm

Alex Rocha

2020












A Mágoa de um Caboclo

 

Seu moço me diga algo

Que eu vou lhe perguntar

Como pode hoje em dia

Do jeito que a coisa tá

O pobre viver tranquilo

Magro fino igual um grilo

Sem dinheiro pra comprar?



Seu moço sou gente humilde

Tenho vergonha na cara

Trabalho suando a camisa

Isso ai nem se compara

Esse é o meu lamento

Carregado pelo vento

Tenho o físico de uma vara.


Pra sustentar a família

Eu aqui corto dobrado

Tiro leite e Planto a roça

E ainda trabalho o gado

E na boquinha da noite

Eu trabalho com machado.


Antigamente seu moço

Eu não comprava de nada

Minha roça era sortida

Eu pegava de carrada

Colhia tanto alimento

Que até o meu jumento

Vinha comendo na estrada.


Hoje eu olho as barracas

Nas feiras da região

Tudo custa uma fortuna

Para o pobre cidadão

Pois assim ninguém aguenta

Até um mói de pimenta

Eu vi vendendo no chão.


Ai que lembrança da terra

E da casa de farinha

De quando faltava a carne

Eu matava uma galinha

Seu moço a minha tristeza

Eu lhe digo com franqueza

É saudade do que eu tinha

Fica aqui a minha mágoa

De um pobre trabalhador

Que nasceu no pé da mata

Mais dá lição em doutor

Que sempre viu a beleza

E tirou da natureza

Só o que ela deixou.

Autor: Cleber Sardinha



sábado, 15 de agosto de 2020

O CAÇADOR E UMA FLECHA SÓ



O CAÇADOR DE UMA FLECHA SÓ

0,50 x 0,70
Óleo sobre tela
Alex Rocha
2020

Esse trabalho só foi possível graças ao processo que venho sofrendo, já alguns anos, de descolonização. Exercício difícil, muitas vezes doloroso, mas, necessário para quem deseja ler mais que as palavras – o mundo, e que, portanto, pode ser tocado pela possibilidade de torna-se negro ainda que sua pele seja preta. A série “Coisas do Sagrado”, sequência de trabalhos com temas religiosos que estão diluídos no meio cultural, tem possibilitado ainda mais essa reflexão.

     
A riqueza do legado afro-brasileira é imensurável, mesmo com todas as ultrajantes tentativas de apagamento ao longo dos séculos.  A arte, religião, a cultura produzida pelas mãos e pelo intelecto dos pretos e pretas em diversos lugares, mas sobretudo, aqui. do lado de cá do Atlântico, tem sofrido preconceito no sentido mais sórdido da palavra.  Contudo, parece que a natureza ontológica desses povos sempre foi de resistência. 
 
“O Caçador de uma Flecha Só” é um olhar, tímido, mas desejoso de aprender, para esse lugar- a cultura afro-brasileira.

                                                                                                                          Alex Rocha

terça-feira, 5 de maio de 2020

Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante





Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante
Alex Rocha
Óleo sobre tela
40 X 50 cm
2020











Canto do Desassossego em Dias de Lua Minguante


A inspiração para esse pequeno trabalho vem em parte do “Livro do desassossego” de Fernando Pessoa. As inquietações em prosa nesse livro, aliado ao atual momento que todos estamos passando, me incomodaram ao ponto de parir esta pintura. 
Avaliando o meu trabalho sinto que muitas vezes tenho sido repetitivo, seja nos aspectos referentes a forma, seja no emprego das cores, ou ainda, no caráter subjetivo e intimista. Pedindo licença ao grande poeta Manuel de Barros, o qual tenho imensa admiração, tomando emprestado uma das suas falas no poema “Autorretrato” no momento em que fala que já havia escrito 14 livros, todos repetições do primeiro, arremata: “posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim”. Isso me conforta imensamente e digo, também não posso! 
"Canto do desassossego em dias de lua minguante" título para essa obra pintado em óleo sobre tela (40 X 50 cm), é uma leitura introspectiva desse momento. Como já adiantei, "desassossego" se refere não só ao citado livro, mas, as inquietações reverberadas do atual momento. Já a "lua minguante" é símbolo de reclusão/reflexão e preparação para recomeço. O "pombo" que em muitas vezes representa a paz, aqui é desassossego. 
 De forma nenhuma, esse desassossego deve ser entendido simplesmente como falta de paz, ou ainda, mensagem pessimista. Não é isso! Acredito que todas as incertezas e medos gerados nesse momento também podem nos despertar para esperança. Aquela do verbo esperançar, onde o mote é a labuta, o fazer. 
 Portanto, que as reflexões nesses dias de lua minguante nos transforme. E que seja para melhor! Melhor no amor. 

 Alex Rocha

terça-feira, 21 de abril de 2020

AVE LIBERDADE





AVE LIBERDADE
Óleo sobre tela
50 X 70 cm
Alex Rocha
2020










Ave liberdade

Ó, bela ave, livre para voar,
Alce o teu voo rumo à liberdade
Para que nada possa te limitar
A não ser a tua própria vontade.

Que o teu percurso seja o infinito,
Que o teu canto nele sempre reverbere
Concebendo a altivez do seu espírito,
Demonstrando a natureza que te insere.

Que com o teu olhar atencioso
A perspicácia alicerce teu trajeto
E na força do teu ser decoroso
Que o céu seja o teu único teto.

Para que o descansar do teu pouso
Nunca seja solitário e engessado
E, caso assim fores no teu repouso,
Que seja apenas na arte de um quadro. 

Autor: Eduardo Duarte

sexta-feira, 17 de abril de 2020

ANJO EM PERFIL











ANJO EM PERFIL
Óleo sobre Tela
40 X 50 cm
Alex Rocha
2020










 COISAS DO SAGRADO

Acredito que arte é um conceito livre, não aceita definições. Mas penso a cultura popular como lugar de expressão do que é mais puro e verdadeiro na arte. É desse lugar ou, a partir daí que, direta ou indiretamente, tenho pensado meu trabalho. Embora sempre impregnado de subjetividades, características de memórias afetivas, é através da cultura popular que tenho narrado as minhas pinturas. É do “nicho” da cultura popular que tenho tirado os meus “brinquedos”, as minhas histórias.  As coisas do sagrado - os santos, anjos, os símbolos e lendas - que passam por mim se transformam em desenhos e pinturas. E se em muitas vezes isso não fica tão explícito, quase surrealista, é por conta da forma de contar.
Coisas do Sagrado trata de uma série de trabalhos que venho desenvolvendo voltados para arte sacra que permeia a cultura popular. Nesse sentido não diz respeito apenas à iconografia presente na igreja, mas também, a mitologia e crenças diluídas no meio popular, formando uma espécie de amálgama cultural. Isso tem me afetado sobremaneira que aliado as minhas memórias não só da minha infância, mas, sobretudo dela, vem me constituindo como artista.
Apresento aqui a cabeça de um Anjo em perfil que integrará uma composição de três trabalhos com mesma dimensão (40 X 50 cm), sendo este o segundo. A ideia inicial é emoldurar depois de prontos os três em uma mesma moldura.
Esses anjos foram pinçados da memória de infância. Eram eles que me recebiam na casa da minha avó.  Seis cabeças ornamentando o céu de um quadro onde se encontrava ao centro, braços estendidos, um homem. Na minha meninice não compreendia quem era.  Tão pouco entendia por que estava ali cravejado em uma cruz. Essa cena sempre me incomodava, muito mais os anjos. Seis cabeças aladas. E eu sempre a perguntar, onde estão os corpos desses meninos?
Alex Rocha

sexta-feira, 6 de março de 2020

O DIVINO













O DIVINO
óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019








O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
 e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!

 A gente principia as coisas, 
no não saber por que,
 e desde aí perde o poder de continuação
 porque a vida é mutirão de todos, 
por todos remexida e temperada. 
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: 

que as pessoas não estão sempre iguais, 
ainda não foram terminadas, 
mas que elas vão sempre mudando. 
Afinam ou desafinam.Verdade maior. 
Viver é muito perigoso; e não é não. 
Nem sei explicar estas coisas. 
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.

Guimarães Rosa
Passagem de "Grande Sertão Veredas

sábado, 22 de fevereiro de 2020

UM ANJO








UM ANJO
Óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019
















Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando se chega pra cá?
Perguntaria também
Como é que ele é feito



Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que é que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Vivemos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?


Landro Gomes de Barros

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A ESPERANÇA








A ESPERANÇA
Óleo sobre tela
0,40 X 0,50
Alex Rocha
2019

















Sou o mar soltando a rima
Em cada onda quebrada
Pela proa da jangada
Ora embaixo, ora em cima
O meu ciclo não termina
É corrente quente e fria
Conheço a barra do dia
E a linha do horizonte
Sou base pra qualquer monte
O meu nível rege a guia

Navego pela poesia
Num Galope a Beira Mar
Sou o verso pra rimar
O ciclo que se inicia
Meu canto não silencia
E sonoriza o balanço
Eu nunca paro e nem canso
Vou invadindo fronteiras
Fincando frases bandeiras
Em cada ponto que avanço

Sou valente sendo manso
Bravio, calmo e sereno
Pra ser grande, sou pequeno
Querendo colo e descanso
Sou a passada do ganso
Na mansidão nova Lua
Recebo versos das ruas
Por onde o vento trafega
E entre espumas me entrega
Saudades das noites suas

Em meus sonhos perpetua
Outro canto de saudade
Vou construindo a idade
Eu sou o tempo que atua
Formando outra pele nua
Com a semente do bem
E cada verso que vem
Traz outra rima de Paz
Somos isso, e muito mais
Filhos de Deus, Amém!



  

Maviael Mel

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O LUMIAR DO LAMPIÃO

























O Lumiar do lampião
Alex Rocha
Óleo sobre tela
0,80X100 cm
2019














Ê Cangaceiro,
Onde mora lampião
Mora junto de São Pedro
Lhe contando a região
Sertão, meu sertão
Onde está Lampião
O famoso cabra da peste
E Maria sua paixão
Nasceu na terra de valente
Onde a faca não só corta cana corta gente
Viveu na terra de valente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
E quem morre primeiro deixa o amigo pra enterrar
É mais uma cruz que marca uma história pra contar

Você recado de gente
De cara valente que nem Lampião
Não tem mais cavalo e nem sela
E seu maço de vela já parou de queimar
Eh Cangaceiro,
Onde mora lampião
Mora junto de São Pedro
Lhe contando a região
Sertão, meu sertão
Onde está Lampião
O famoso cabra da peste
E Maria sua paixão
Nasceu na terra de valente
Onde a faca não só corta cana corta gente
Viveu na terra de valente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente
Onde a faca dança e roda corta e mata gente


Banda de Pau e Corda
Lampião