CRIANÇA
ÓLEO s/TELA
0,70 X 1.00
Alex Rocha
O MENINO MAIS VELHO
Inferno: esta palavra tinha chamado a atenção do
menino
mais velho. Perguntou à Sinha Vitória, que foi vaga na
resposta.
Perguntou a Fabiano, que o ignorou. Na volta à Sinha
Vitória,
indagou se ela já tinha visto o inferno. Levou um
cascudo e
fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhia, tentando
alegrá-lo
naquela hora difícil.
“Aí Sinha Vitória se zangou, achou-o insolente e
aplicoulhe
um cocorete.
O menino saiu indignado com a injustiça, atravessou o
terreiro, escondeu-se debaixo das catingueiras murchas,
à
beira da lagoa vazia.
A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil.
Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à
espera de
um osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava
em
ossos, e o torpor que a embalava era doce.”
Decidiu contar à cachorra uma história, mas o seu
vocabulário
era muito restrito, quase igual ao do papagaio
sacrificado na
viagem.
Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Pensou
novamente
no inferno. Deveria ser um lugar ruim e perigoso,
cheio de
jararacas e pessoas levando cascudos e pancadas com a
bainha
da faca.
trecho ade Vidas Secas ( Graciliano Ramos).