sábado, 9 de novembro de 2013

CRIANÇA










CRIANÇA
ÓLEO s/TELA
0,70 X 1.00
Alex Rocha





























O MENINO MAIS VELHO


Inferno: esta palavra tinha chamado a atenção do menino
mais velho. Perguntou à Sinha Vitória, que foi vaga na resposta.
Perguntou a Fabiano, que o ignorou. Na volta à Sinha Vitória,
indagou se ela já tinha visto o inferno. Levou um cascudo e
fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhia, tentando alegrá-lo
naquela hora difícil.
“Aí Sinha Vitória se zangou, achou-o insolente e aplicoulhe
um cocorete.
O menino saiu indignado com a injustiça, atravessou o
terreiro, escondeu-se debaixo das catingueiras murchas, à
beira da lagoa vazia.

A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil.
Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à espera de
um osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava em
ossos, e o torpor que a embalava era doce.”
Decidiu contar à cachorra uma história, mas o seu vocabulário
era muito restrito, quase igual ao do papagaio sacrificado na
viagem.
Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Pensou novamente
no inferno. Deveria ser um lugar ruim e perigoso, cheio de
jararacas e pessoas levando cascudos e pancadas com a bainha

da faca.

trecho ade Vidas Secas ( Graciliano Ramos).