As tramelas de Dom Sebastião
70 X 1,00 cm
Óleo sobre tela
Alex Rocha
2019
Durante três anos, de 1835 a 1838, na Serra do Catolé, em São José do Belmonte, Pernambuco, uma comunidade com cerca de mil pessoas morou próximo às pedras de 30 e 33 metros de altura, sob a liderança do jovem João Antônio dos Santos e posteriormente de seu cunhado João Ferreira; a partir dali nasceria à fantástica história das "Pedras do Reino".
A crença era baseada no sebastianismo. Inspirado em cordel sobre D. Sebastião, João Antônio dizia que o mitológico rei português (morto no século 16 em batalha contra os mouros) desencantaria ali, e acreditavam no aparecimento, em pleno sertão, do Reino Encantado de Dom Sebastião, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império Português, livrando o povo das mazelas. A espera terminou com o massacre da Pedra do Reino, em que 53 pessoas, dentre essas, 20 crianças; e 14 cães morreram em sacrifício, entre os dias 14 e 16 de maio de 1838.

No
Brasil, o mito sebastianista da Pedra do Reino prometia que o Rei finalmente
voltaria do deserto instalando aos pés da Pedra Bonita – nome primitivo da
Pedra do Reino – um Reino Encantado. Distribuiria riqueza, terras e libertaria
os negros da escravidão. O sangue dos fiéis derramado nas Pedras - pregava o
líder dos sebastianistas - abriria caminho para o “desencantamento” do Rei.
O
Movimento fanático surgiu no município de Floresta (em área que depois
integraria o município de São José do Belmonte), interior de Pernambuco, em
1836, um ano depois de o estado sofrer uma grande seca. Teve início com as pregações
do beato João Antônio. O beato foi logo seguido por uma legião de adeptos, mas,
pressionado por padres católicos, desistiu da iniciativa. Dois anos depois,
João Ferreira (um cunhado do beato João Antônio) reinicia o movimento, com as
mesmas promessas de criação do "Reino Encantado". O fanático João
Ferreira reunia seus seguidores em torno de um grande rochedo;a "Pedra do
Reino"; e dizia que, para que o rei Sebastião revivesse e pudesse realizar
o milagre da riqueza, era preciso que a grande pedra ficasse totalmente tingida
com sangue humano. Quem doasse o sangue para a volta do rei seria recompensado:
velhos ressuscitariam jovens; pretos voltariam brancos e todos, além de ricos,
seriam imortais na nova vida. Tiradas de suas lavouras pelo flagelo da seca,
famílias de agricultores acamparam em volta da rocha e passaram a aguardar o
milagre.
Os
registros oficiais sobre a Pedra do Reino citam uma beberagem à base de manacá
com jurema servida por João Ferreira aos seus seguidores, durante as cerimônias
sebastianistas. Um é raiz; a outra, erva. Ambos, fortes alucinógenos. João
Ferreira proclamou-se "rei" e estabeleceu os costumes da comunidade
ali formada. Por exemplo, cada homem poderia ter várias mulheres, mas cabia ao
"rei" o direito da primeira noite: ele dormia a noite de núpcias com
a recém-casada, devolvendo-a no dia seguinte ao marido. Todas as outras normas
de conduta também eram ditadas por ele. A tentativa de tingir a pedra com
sangue humano (para que, finalmente, o milagre acontecesse) foi levada à
prática durante três dias de maio de 1838. O primeiro a ser degolado foi o pai
do "rei" João Ferreira. Outras 50 pessoas foram sacrificadas, a
maioria crianças. Mas, mesmo assim, o rei Sebastião não apareceu. Os fanáticos,
então, decidiram sair em procissão, tendo à frente João Ferreira. Encontraram
uma patrulha e foram massacrados.
Fonte:www.sobrenatural.org.br